Psicoterapia Psicanalítica, o que é isso?
A psicoterapia é uma abordagem de intervenção que tem como objetivos o auto-conhecimento, desenvolvimento do sentido de personalidade e identidade, tomada de consciência de dinâmicas e padrões que interferem/limitam a forma como percepcionamos a realidade e a nossa relação com os outros, a elaboração de traumas, lutos, aspetos da história de vida e emoções que se cristalizaram, pela impossibilidade de serem sentidas/elaboradas no momento em que surgiram, e que se traduzem numa carga pesada à nossa saúde mental e que se relacionam com os sintomas que aparecem na nossa vida e nos trazem desconfortos ou bloqueios, ao nível da ansiedade, depressão, medos, conflitos, entre outros. 

Desta forma, o processo de psicoterapia traduz-se, a médio prazo, na transformação e alívio desses sintomas e bloqueios/dificuldades que vamos sentido, de forma consistente. No fundo, é como se tivéssemos dentro da nossa mente, uma divisão desarrumada, para onde fomos atirando coisas pesadas, difíceis, dolorosas. Com o tempo, e a vida, essa divisão começa a ficar sobrecarregada e a exercer pressão noutras áreas da nossa mente, e começamos a sentir que algo não está bem, algo está desequilibrado. 
Todos nós, inevitavelmente, temos esta divisão e fazemos alguma acumulação de coisas difíceis, ou porque estamos a passar fases mais complicadas, ou porque sentimos que temos de ser assim, ou porque não encontramos espaço mental, dentro de nós, para ir processando tudo o que nos vai acontecendo, ou que nos aconteceu. É, por isso, extremamente importante que possamos estar atentos aos sinais que nos indicam que essa divisão está a ficar demasiado cheia, e que é preciso arranjar algum tempo para começar a arrumar o que por lá vai dentro. Pode ser difícil, todos sabemos que arrumações pesadas não são tarefa fácil, mas por isso é também importante que possamos começar o quanto antes... antes de estar tudo tão desorganizado, que fica difícil até entrar!
Com o tempo, com o trabalho psicoterapêutico cimentado no amparo, cuidado, escuta e compreensão do psicólogo/a, essa carga pesada vai ganhando sítio, vai sendo vista e arrumada, e aquilo que parecia uma confusão e um caos sem remédio, começa a tornar-se mais leve, mais fácil de organizar, e liberta espaço para surgir aquilo que é mais verdadeiro e expontaneo em cada um de nós... porque nos tornamos mais leves e mais livres.

Fazer psicoterapia, em poucas palavras, é torna-se quem se é, quem se quer ser. É libertar-se. 
E mais do que compreender, é algo que se sente. 
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O sintoma é tão importante!
Vem uma febre. Aguentamos 1, 2 dias. Tomamos alguma medicação para ajudar. Mas se a febre demora, o que fazemos? Provavelmente pensamos: epá, alguma coisa não está bem. Tenho de ir ver o que se passa!
Vamos à procura da causa daquele sintoma. Uma infecção ou inflamação, talvez, mas temos de saber de onde vem, para poder resolver de vez, não só o sintoma, mas tudo o que o está a causar. 
Quando o sintoma é da ordem psíquica, psicossomática, a lógica é a mesma. O sintoma ajuda-nos a perceber que alguma coisa não está bem e a saber, mais ou menos, onde procurar o problema por detrás. O exame, esse, não é tão imediato e concreto, porque a mente não tem lugar fixo, ou melhor, ela está em todo o corpo. Não é possível uma ecografia, ou um raio-x, nem umas análises à bioquímica mental! O exame, neste caso, é um auto-exame, apoiado por um olhar experiente em sintomas e significados da mente, e começa pelo próprio olhar interno, da mente sobre a mente. O que se passará? De onde vem este mal-estar, esta ansiedade, esta insónia, esta angústia? O que me está a dizer, este sintoma, sobre mim e sobre o que se passa na minha vida? Que emoções carrega este sintoma? E o que o poderá estar a causar? É por aqui o caminho, daí a enorme importância do sintoma e do seu significado.
Quando começamos a olhar o sintoma, a ouvi-lo, a tentar compreendê-lo, ele por norma começa a ter menos impacto na nossa vida. A sua função, está a dar resultados. O sintoma serve para nos chamar à atenção de que alguma coisa não está bem, não está equilibrada e precisa de ser mudada/reajustada/encarada/sentida/percebida, etc. ...  

Pode ajudar tomar uns comprimidos, dizem muitos: para a angústia, para a insónia, para a ansiedade. Fazer umas respirações. Baixar a luz antes de dormir, evitar estímulos. Mas isto resolve? Não. Isto pode apagar o sintoma, se for eficaz o suficiente, mas não resolve a causa e, dessa forma, outro sintoma acaba por arranjar forma de aparecer, de chamar à atenção, cada vez mais intenso, mais alto, mais difícil de controlar. 
É fácil ter a percepção deste encadeamento, se já tentámos resolver sintomas através de formas mais superficiais, que não vão à origem do problema, pois rapidamente vemos outras dificuldades surgirem, ou a mesma, mais intensa. 

Ir à procura da origem do sintoma, não é uma tarefa fácil. Não tão fácil como ir fazer um exame clínico. Mas a verdade é que, por estarmos nessa procura e termos dado ouvidos a esse sintoma, já estamos a fazer grande parte do caminho que o minimiza. Isto não quer dizer que outros sintomas, outro mal-estar, outras angústias não apareçam, mas quer dizer que estaremos mais capazes de os ver e escutar e, assim, encontrar a origem do desequilíbrio que os provoca. E desequilíbrios, esses, sempre existirão na nossa vida, na medida em que as coisas saem frequentemente fora daquilo que esperávamos e que esbarramos na nossa impotência para controlar os acontecimentos. Mas é diferente não dormir bem durante anos, sem saber porquê, ou ter ataques de pânico frequentes em situações aleatórias, sem saber porquê, ou, em vez disso, olhar de frente a nossa condição humana, elaborar a nossa impotência, aceitar as nossas emoções e poder senti-las, enquadrar a nossa história e seguir um caminho mais livre. Também dói por vezes, mas dói durante menos tempo, sabemos porque dói e sabemos que vai aliviar-nos.  

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Sobre mães suficientemente boas

Ser Mãe é um universo de coisas. Um universo em relação, com outros universos complexos.

É um universo também no concreto, mas muito no subjectivo. 

Mãe é roupa suja, calendário de banhos, lembrete de aniversários. 

A sua cabeça tem departamentos: da administração, da logística, saúde e educação; É quase sempre a mais chata, a rabugenta, a que insiste na hora de deitar, na importância do brincar e das refeições variadas. É avariada, pois é. Esteve muitos meses focada, centrada, em altas rotações internas... em altas demandas externas... a vida dependia de si... tantos meses, que a sua rota avariou e passou a ser aos sucalcos, entre os altos e os baixos, entre lembrar-se e encontrar-se... entre perder-se e esquecer-se.  

Mãe é dentes serrados, cabeça em água, gravador repetidor. É não aguentar mais o caos. É ter saudade dele.

Vive em conflito, já depois de ter dito, entre dizer de novo ou desistir. Faz experiências, quebra-cabeças, muda de lugar. Tem espaço que sobra e, às vezes, é insuficiente para conseguir abarcar todas as diferenças, exigências, turbulências, condescendências, conveniências, divergências, desobediências e assistências... 

Respira! Ouve em eco constante o nome que lhe foi dado. Todas as perguntas encontram em si a resposta, pelos vistos... É o centro de comando, que coordena, supervisiona, responde e delega. Que sabe onde está tudo. Que sabe o que é preciso e quando é preciso.  

 

MÃE!  

Vê a vida a passar, em velocidade máxima. É nas fotografias, nos sapatos que não cabem e na roupa que não serve, nas reuniões da escola, no tamanho das fraldas, nos cortes de cabelo, no abraço que primeiro encontra o joelho no chão, depois as costas curvadas e, breve, é direto à barriga, depois ao peito. 

Mãe não tem a vida facilitada. Mãe é pau para toda a obra. É repositório de receitas, medicamentos e posologias, trabalhos manuais, cantigas e histórias, formas diferentes de dizer coisas, emoções... muitas!... contraditórias, intensas e engolidas, outras expelidas em alto volume, arrependidas e choradas, outras amargas, muitas embaladas de doçura de ver nos olhos dos seus filhos a maior das ternuras. Mãe é amparo. Mesmo naqueles dias, naquelas situações, naquelas discussões e arrelias, mesmo quando está esgotada e irritada, ensonada, apavorada, desolada... ampara. É dor acoplada. As suas, as deles, que seguem a reboque, vida fora, sejam grandes ou pequenos. 

Mas mãe também é gargalhada! Palhaçada! Dança descomplicada. Deixar sujar, virar a cara. Elogiar, desenvolver, explorar. Deixar-se espantar! Aceitar e perdoar. Aguentar.  

Mãe suficientemente boa é tudo isto. Cuidar, amparar, responder. Sofrer, ralhar, desculpar-se e desculpar. Sobreviver. Ser. Desenvolver. Libertar. Acolher. Amar. Estar. E aproveitar!  

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